Calamar-argentino (Illex argentinus)
O calamar-argentino (Illex argentinus) é uma espécie de vida curta e ciclo reprodutivo único (semelpárea) que tem sustentado na costa Argentina a maior pescaria de cefalópodes da atualidade. Apesar de prospecções pesqueiras realizadas nas décadas de 1970 e 1980 terem apontado para o potencial pesqueiro da espécie no talude do Sudeste Sul do Brasil a explotação comercial desse recurso iniciou-se apenas a partir das elevadas taxas de captura obtidas pela embarcação Joana, de bandeira portuguesa, que realizou viagens de prospecção pesqueira comercial nessa região, principalmente no ano 2000 (Figura 1). Em 2001 essa espécie compôs, ao lado da merluza, peixe-sapo, galo-de-profundidade e abrótea-de-profundidade o conjunto de alvos da incipiente pesca de arrasto de talude (200 - 400 m ), demandando um levantamento dos principais padrões pesqueiros e biológicos com vistas a compor o conjunto de recomendações futuras não só para a pesca de arrasto profundo como um todo, mas também para a potencial introdução de operações de jiggings automatizados na costa brasileira.
Calamar-argentino (Illex argentinus)
Os potenciais pesqueiros e os aspectos biológicos do calamar-argentino, passaram, a constituir os objetivos abordados pelo programa de "Análise das pescarias e avaliação dos Recursos Demersais de Profundidade" como parte das metas do convênio estabelecido entre a Universidade do Vale do Itajaí e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento em 2002 (MAPA/ SARC/ DENACOOP/ 126/ 2002) e a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (SEAP/PR) em 2003. Esses objetivos fazem parte também do conjunto geral de subsídios científicos necessários para o desenvolvimento de um plano de manejo para a pesca de arrasto de talude, a ser implementado em 2004. Esse programa tem como base de informação, os dados pesqueiros gerados pelo Programa de Observadores de Bordo das Embarcações Arrendadas e Programa de Rastreamento da Frota Arrendada, todos no âmbito dos referidos convênios.
O interesse pelo calamar-argentino se intensificou a partir das elevadas taxas de captura obtidas pelo arrasteiro coreano Insung 207 no inverno de 2002 em áreas localizadas entre 27o e 29o S e 133 e 745 m de profundidade (Figura 2). Essas capturas estimularam também o direcionamento de viagens de arrasteiros simples e duplos da frota nacional que obtiveram nesse período as maiores capturas dessa espécie registradas por embarcações nacionais.
- Calamar-argentino (Illex argentinus)
As análises biológicas e populacionais revelaram que a pesca de arrasto capturou machos e fêmeas com comprimentos do manto entre 78-340 mm (média: 199 ± 50 mm DP) e 98-395 mm (média: 168 ± 31 mm DP) , e peso total entre 80-425 g e 18-830 g respectivamente (Figura 3). As principais capturas ocorreram em inverno e primavera sobre concentrações reprodutivas principalmente compostas por um grupo populacional, de grande abundância (Figura 3), que desova nesse período do ano. Capturados entre 24°S e 29°S e profundidades maiores de 300 m , os indivíduos deste grupo atingiram grandes tamanhos de maturação (Figura 4) e foram identificados como pertencentes ao grupo designado, no sul do Brasil, como Subpopulação Sul Brasileira (SBS). Este grupo foi considerado uma extensão do grupo descrito no norte plataforma argentina, designado de sub-população do Norte-Patagônica (SBNP). Além desse grupo, também foi caracterizado um grupo de machos e fêmeas de menor tamanho, desovantes entre o período de verão e primavera, em áreas menos profundas.
Hipotetiza-se que (a) o grupo mais abundante de desovantes de maior tamanho seja de caráter sazonal, cuja penetração na região entre as latitudes 29°S e 35°S ocorra no inverno-primavera e cuja desova contribua para o recrutamento da SBNP e (b) o grupo de desovantes menos abundante de verão-primavera seja uma população de caráter local e mais costeiros, concentrados entre as latitudes 23°S e 25°S.
Calamar-argentino (Illex argentinus)
Assim, conclui-se, até o momento, que participação do calamar-argentino entre os alvos da pesca de arrasto de talude, deverá ter caráter localizado e sazonal. Além disso, essa participação no contexto do manejo dessa pescaria deverá levar em consideração (a) que se trata de um estoque semelpáreo, ou seja com abundância dependente do recrutamento anual, e (b) que as principais concentrações comerciais do sul do Brasil devem estar relacionadas com unidades populacionais explotadas na costa uruguaia e argentina, o que indicaria o caráter compartilhado dessa estoque entre os três países.
A avaliação da biomassa do estoque capturado no Sul do Brasil em 2002, bem como de outras espécies componentes da pesca de arrasto de talude, e estimativas de sustentabilidade dessas capturas, estão sendo realizadas no âmbito do convênio UNIVALI-SEAP/PR. Mais informações, podem ser obtidas em:
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